domingo, 19 de agosto de 2012

Agosto

Agosto. Assim como o outono é uma estação mais do espírito que climática, agosto é mais o mês dos temores e dissabores que uma simples contagem do tempo que, apropriações à parte, segue seu ritmo imutável. Como uma boa crente nos assuntos do astral e das vibrações, ele nunca me passou despercebido - ou destemido. Pela primeira vez, independente do estresse pós independência ou da crise de abstinência intercambista, estamos seguindo equilibrados, o mês e eu. Como se tivéssemos feito um acordo onde ninguém fere ninguém além do que se julga justo. Tenho até medo de pronunciar esse acordo invisível e rompermos, assim, a trégua.
Fico pensando, que força é exercida sobre a gente nesses períodos tão marcantes, como o outono e Agosto, que os transformam, elevam seus significados de uma forma tão descomunal?
Mas tenho percebido...o mês já foi mais mal falado. Minha previsão, com o início, era composta por intermináveis frases de repúdio e medo atribuídos ao mês do cachorro louco, gritadas por anônimos que, ora citariam Caio Fernando Abreu, ora colocariam frases que Lispector jamais havia pronunciado sobre esses mês que nos dizeres, é impronunciável (harry potter feelings).
Sempre fui bem esperançosa com setembro. Não sei se pelas músicas, pela primavera, por ser o mês do meu aniversário. Mas, sinceramente, não sei o que esperar dele. Ano passado coloquei tantas expectativas nos seus dias que acabei frustrada. Nessa minha ignorância de quem não sabe ler os astros, aguardo setembro com a minha reza diária

Abre as janelas do meu peito.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Das interrogações

A canção que toca ao fundo não desvenda nosso destino. A unica coisa definida é a mudança contínua, troca de ciclos - ou o eterno retorno? Naquele livro, se dizia que a vida é como uma peça de teatro sem direito a ensaios. E, se pensar, toda essa nossa teatralização de (re)sentimentos, gestos e vontades, não é nada mais que a sua tese.

- Quantas vidas cabem em uma só? E quantas vezes se morre e volta a tornar-se completo ou, ao menos, vivo?

Das interrogações, quero a multiplicação - para não sucumbir ao tédio. Ou as respostas em pressentimento.

Em um dia torto de vertigem, pegarei a estrada com a naturalidade de quem abre os olhos. E olharei as coisas como quem renasce. E já não será vertigem, mas a involuntária vontade de ser o que almeja - liberdade. Mas que por excesso, não se torne preso, ou limitado pela solidão. Que da pedra bruta, que julgam inlapidável, se tire a canção e que a refaça e propague - pedra transformada em vento.

Que a música que pressinto nos dizeres seja o tempo
a claridade
e a eterna fênix vagueando no universo.


quinta-feira, 9 de agosto de 2012

- Vamos brincar de louco? – perguntei ao Nada.


De quantas maneiras uma história pode se compor?

De infinitas, ora! Que pergunta mais fácil de se responder. É só juntar cada parte em cada outro, e formando peças e fragmentando-as. Assim, mistura o seu destino ao meu. A gente junta cada peça solta, separa algumas, vai se moldando. A gente é assim mesmo, é sempre o mesmo mas com partes re-combinadas.

- Quanto dura seu infinito?

Como se as pontas do universo se unissem, eu sou ele próprio.

Quando o tudo e o nada me dissolvem, voo solto por mundo desconhecidos. Em que parte da gente a memória se tatua?

Dessas perguntas distorcidas, me escondo no eco. Distraio. Naturalmente indeciso.

um dia, bem mais que dois.

um dia, bem mais que dois, quase uma vida inteira. nele eu retirei minhas cascas, estratégias, vidas por um fio. rompi meu novos tratados, reafirmei os velhos, me despedi. enquanto abraçava o novo, sem as cascas, sem as faces, sem as antigas vestes, mal pensei no que havia feito de mim.

quanto mais pés eu ando,
quando mais mundo e mais fome e mais canto
quase todo
para destruir o quê
em mesmo lugar.

eu calo o pranto
me acredito no que convém

- onde estão minhas cascas, perguntarão. por aí, talvez.
perdidas.

bem mais que o tempo, cadê meu vento?
para me tornar o lar.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

tempo de ternura?


o tempo que perdura nessa linha tênue, que se escassa e se respira, é meu tempo em sobremundo. quando te digo verdades em códigos, que se entenda a mentira e eu, assim, não serei descoberta. misturo as faces nesse meu tempo, enquanto resta ternura. que não serve e que não sirva, já que não modifica ou me refaz. encontro entre os dentes, no desrespeito inequívoco de, assim, machucar. no rádio a canção tenta amenizar o que não desfalece. você me aplaude, o tempo e suas marcas. como o inevitável, o frio, o condizente suspiro - e o grito de não. em quantos planos, ares, planetas incontáveis será preciso andar, respirar, conhecer, para que a resposta seja o avesso?