quinta-feira, 11 de setembro de 2014

para atravessar as frestas

a canção de fundo martelava na cabeça para ver se invadia a alma: sol de primavera abre as janelas do meu peito. e repetia, ininterrupta(-na-)mente. 
mentia sobre suas disposições sobre a vida: o que queria dela e o que ela, a vida, parecia querer em troca. um escambo de intenções, privilégios, virtudes, moral, vícios, rancores, sessões de angustia comedidas. quase uma conversa inquietante em oficina de diabretes. mas a vida não é dessas coisas. 
fiquemos com a conversa inquietante.

seu dia seguia na intranquilidade dos aflitos. olhava atordoado pelos cantos e quinas que frequentava. parecia não haver solução para o seu grande pequeno problema. gripe, vírus, dores nas costas - todas elas indiferentes e ínfimas em relação ao que lhe acontecia. a fome, as guerras civis, epidemias - tampouco. 
seu olhar era direcionado pelo tamanho da sua generosidade: para baixo, não passava do umbigo; para cima, não ultrapassava o limite de seus olhos no espelho.
todavia, não iremos fazer aqui crítica de juízo. um pobre coitado, penso eu.
voltemos. 

a despeito de seus caricatos defeitos, setembro fazia desabrochar um cadinho de ternura. e é por isso que ele cantava, para internalizar de fora pra dentro; para o sol atravessar suas frestas e atingir seu coração gélido e imóvel.