Com um sorriso tímido no canto do olho ele disse: em breve teremos
café daqui de casa para tomar. Nos pequenos
cuidados o amor se desdobra, pensei ao olhar seu ritual diário no trato dos
grãos. Pela manhã os colocava em uma peneira grande e a deixava repousar no
carinho do sol. De tardezinha, sentado na varanda, descascava os grãos
depositados em um pilão de madeira. Assim foi por três semanas e 500 gramas
de café. Certa vez, apreciando o sabor daquele que, para nós, era o melhor café
– porque cultivado com zelo e carinho de pai – comentei como o dia estava
bonito. O sol quente nos afagava naquela manhã fria de junho. Ele, com seus olhos
observadores fitando o mundo, falou: ao escutar a conversa da noite me foi
revelado que o dia amanheceria assim. Fiquei quieta, refletindo sobre os mistérios
que a natureza compartilha com os velhos do rio e mais ninguém. Ao vê-lo
sentado em uma poltrona, no caos da cidade grande, penso que o mundo está ao
avesso. Os lares verticalizados te atrapalham o horizonte. Volta para o mato,
PAIssarinho.