quarta-feira, 16 de maio de 2012

outono em 15 atos

I


quando o caos precipita
e o escuro encobre meu vestido de sol
o inesperado surge à ponta:
e meu destino, retraçado,
esboça cores jamais imaginadas.

II


nas profundezas de mim
sinto os sinais de outono.
e sinto medo.

com o sol rente a cabeça.

III


a vida segue, lentamente,
seu movimento indecifrável
de coisa avassaladora.
das utopias do dia, eu quero a noite.

das dinastias, o sentimento
é de maior nobreza.

que no poço
vil

no fim do caos

você possa, enfim,
amar.

IV


dentro dessas recém-amarguras
que fundem o peito
faço orações que me vem acalmar.

quando penso descobrir
um novo caminho de outono
me deparo, sem mais

com novo desalento.

V


na vida como na dança
cada passo em falso
exige improvisação.

tira da cartola o sorriso
e busca na paz que não tem
a que procura.

sem o riso aflito, na imensidão das horas
um minuto gira torto
e a felicidade é num instante.

VI


nessa vida, que muito do tempo
engana
tem nas coisas um ruído estranho -
nem sempre o que se pede
é o que se tem.

sem maldade por dentro
nas tramas do coração vivo
a ingenuidade é tecida
à mão.

VII


desfaz esse vento que,
aí dentro, tem morada.
se arrisque nesses abismos
sentimentos tortos
inventados
sem data marcada.
e, se desvario acontecer,
procure nas minhas palavras soltas
a lamparina na noite escura.

VIII


na tua fala mansa
que eu penso escutar
me avesso no cantar
das coisas,

como um grito distante
como o piano
o timbre

a luz, ao fundo.

nesse onírico encanto
olhei para janela
sem esperar primavera chegar.

IX


a arte de confundir as coisas
me abre o peito
e treme o corpo.

nada melhor para a saúde
que um amor inventado.

X


na perfeita sintonia
dos pares errantes
das vozes distantes
nesses desconexos passos
de que um chega
e outro já vai.

XI


queria fazer poesia
para você sorrir e pensar
'nesse seu pranto torto
sem querer
encontrei meu lar'.

XII


quando apareceu na minha vida
era dia de outono.
no tempo e na vida.
apegada que sou nas coisas que tenho,
mal percebi que era para sempre.

desconversei

na minha noite de tempestade,
percebi o que acontecia.

da possessão ao sentimento,
três corpos desconexos.

eu gostava do estrago.

XIII


quando te digo mundo
nessa vastidão de sentido
de palavra

a resposta é sempre
contrária do que
pergunto nas entrelinhas.

XIV


dentro do infito cristalino
da alma e o corpo que habita
ele carrega seus demônios acorrentados
que rogam pragas como se cuspissem fogo.
e, na ingratidão intrinseca de parasitas
encerram o homem e sua prória imensidão.

XV


nesses seus sonhos
de menino desesperado
só vejo a busca incessante
pelo amor.

das tristezas da vida,
só a solidão te faz definhar.
como a vela que queima
e, no pouco que resta de luz,
se desfaz em branco líquido.

não, não se afaste assim.
no seu desconhecimento
da vida

eu, perdida,
quero, enfim

ter meu lar.



















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