quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

na dança, na vida, na photo, na música
em mim, tudo baila e paira no ar:
espero cessar o giro, pisar no chão
e dormir duas ou três eternidades.
Era de um delicado incrível o cair da franja
em seus olhos.E de forma suave,com os dedos,
colocava a franja novamente atrás da orelha.

Tinha um andar peculiar,e as palavras lhe saíam
a boca com um tom entre pueril e professoral.
Tinha medo do doce que o amor proporciona quando
se entregar sem medo e completo.Mas,um dia ela provou
disso,e lhe dói as entranhas até hoje de saber que
acabou.Dá uma dor de saudade,dor de quem já foi e
que só com uma mudança no cosmos para fazer retornar.

Sentia sua aprendizagem,sua mudança.Era uma etapa
terminada e ela precisava começar outra (porque a
vida,minha gente,é sucessão de etapas).

Entrou no carro,olhou para o céu - Porra!existe pôr-do-sol
mais perfeito que esse?
Não quis os amigos na sua partida,era quase intolerável
a sensação de ver todos eles lá,eles que,assim como ela,
tocaram no fino da vida,em uma união quase siamesa.

Sempre achou de um triste lindo as despedidas nos filmes,
mas chegada a sua vez viu que não dava - não dava.
- Foi melhor assim.

Com os olhos úmidos,seguiu viagem.
tem dias que a gente acorda como se quisesse viver dormindo.viver dormindo para não precisar escutar, e ouvir, e falar coisas reais, com pessoas reais quando tudo para mim só faz sentido nessa utopia doida dos meus anos.com vontade, mas sem força para ibernar horas a fio fico no meio decada ato e palavra: no meio da rua, no meio da vida, no meio de tudo.
ela pediu que seu chico de assis
assitisse por seu bichinho:


tinha um pássaro de uma asa só.


ao anoitecer,chorava manso uma oração
que não lhe pertencia.


- são francisco, dê uma asa pra quem
quer voar.
aos outros, basta ter pés no chão.
nessa sua vida torta, sou reta feito poste.
só enxergo as coisas que estão debaixo do meu nariz:
uma pedra,uma moeda,uma foto três por quatro.


tudo o que não te faz mais falta.
caí numa só vertigem:
desacreditei da poesia e me refiz
em prosa.
toda concreta e cheia de pudores.


continuo tonta:
paredes de tijolos me zangam a visão.

o dia era claro feito gema de ovo.

um dia de amarelo para dourado,

feito o cabelo daquele rapaz.

de tanto brilho, me ceguei por segundos.

foi quando ele segurou minha mão.

nesse longo breve espaço de coisa alguma

me perdi sem jeito

sem volta,

sem qualquer salvação.

as coisas sem nome
as coisas do homem.


e Ele vai andando atordoado pela Rua Valadares.
e passa por casas,passa por flores,
passa por cachorros sem dono.


Vê a sua frente o dono da loja,observa as senhoras que por ali
vêem vitrinas e pensam que a vida se resume naquilo.


No passeio pára e senta.
abre a bolsa
tira o livro
abre na página.
hesita,
indaga,
desiste.

Porque essas coisas do homem,essas cosias sem nom
eeu não entendo.

meio assim,quase de lado

procurando.


O som do quarto quase reflete,

- chega de sinestesia.

Eu brigo com a voz,calo,

brigo de novo.


Eu chego no quarto,agarro e canto.

depois olho pro teto,conversas.
meio assim,quase de lado

procurando.

tirado de tudo aquilo que conheço,

meu aconchego,minha falsa paz.


tirado de tudo aquilo que busco,

no escuro,demais.

tirado ainda do que me faz forte.

tirado do que sou,do que fui.


é nele que meu encanto se refaz.

I


Pelas ruas,
Na cidade,
Entre ladeiras,
Naquele passeio.
A vida ia e voltava,
Pessoas subiam,outras desciam
E nós – silenciosos no mundo
Abraçados.
O tempo – inimigo constante
Andava,sem pensar.
E os pensamentos nossos vagavam
Pela madrugada,
Pela rua.
Enfim,nos permitimos...


II

A despedida não dolorosa,
A lembrança recente,
O beijo.
Na entrada duvidas pesarosas
Certezas e sensações.
Tudo o que foi com a chegada.
Tudo o que voltou com a partida...


III


Com o nascer do dia – descanso da noite
O encanto se foi.
As sensações transformadas
Em pranto,
Brando.
As verdades da noite
Convertidas em mentira – será?
A duvida permanecendo,
Nada esclarecido.
E o peso encobre o corpo,
Os olhos se fecham
E os lábios se tocam em vão...


IV


Após o céu e o inferno
O arrependimento das decisões,
Precipitadas,
Chega.
E a dor invade o peito.
O pranto preenche o silencio – nada mais que isso.
A distancia faz de mim um grito,
Faz dele o drama...
na réplica do que já fui
faço errado tudo.


tudo outra vez.
Não quero cantar a sorte ao vento
e receber os estragos das más previsões.


Não quero tocar no que não seja (e)terno
nem vislumbrar no êfemero a possibilidadedo que não existe.


Eu quero o concreto da certeza.Enfim,
morrer fatigada no tédio que é
saber.
e por mais que se gostasseme por mais que trocassem confidenciaselogios e palavras de amor,já não era como antes.parecia que tinham se reduzidoa ponto de não se enxergarem mais.as palavras iam - sem respostae vinham.eu já não queria vero final.
Ela quer viver o que não
Pode mais.
Quer,
Não vive.

E na caixa de sapato permanece...
E a mão escorria pelo vidro
Era tanto desespero,
Tanto sofrimento
Que talvez fosse uma encenação.

Louca,via o mundo seguir
Vazar a cada esquina,
A cada casa.
As mãos não paravam.

O suor molhava,
Marcava o incolor.
A voz fraca e delirante
Quase não escutada
Saia com muito esforço:
“ – Mais um dia,somente”

O abismo enterra,
Desterra,
Desenterra.

E a mão suada escorria
Pelo vidro.
Era tanto amor...

-Chicô,manda uma aqui!

e o seu Chico,grande homem,pega o copo e coloca a cachaça.

faz o trabalho de sempre,para as pessoas de sempre(raramente uma cara nova).

e perde seu sono precioso,e vê sonhos destruidos

e vê casais brigando

e vê,lá no fundo

sol nascendo.


e é assim sua vida,quase todos os dias,porque domingo,

domingo é sagrado.

dia de ir na casa de Deus e agradecer,

porque vida boa igual a do seu Chico

não é comum de se ver.

e nos dias chovososcalmos e barrentos,saiam pulando na lama,enquanto os pais dormiam.depois entravam pelaspontas dos pés,ligavam o chuveiropegavam aquela bucha cheia de sementinhase esfregavam o "carcanhá" - como dizia a vovó.de tão exaustos das brincadeiras,caiam na cama e adormeciam...aguardando as aventuras do dia seguinte.
na apoética da minha poesia,me trasnformo em verso.


A melancolia do outono me enche o peito e inquieta a alma.É a estação do meu corpo hermético em busca de uma paz falsa - porque ele quer o desassossego do ventre,dos olhos,da boca sem fala.
As Gerais tem outono no seu âmago: cidades com um mistério efusivo,cheiro de mato e barulho de trem.
Em cada montanha - porque acho de extrema nostalgia essa palavra,aocontrário de 'serras' que me remete algo de pouca intensidade - háum cheiro de terra molhada.Um cheiro de livro velho,mpb na vitrolae avó gritando 'o almoço tá pronto!'.Um cheiro de violão com os amigos,de poesia sentida,de fogueira.Um cheiro de vida.
Cheiro sempre foi uma das minhas marcas.Minha lembraça tem um olfato quase pueril;guardo pessoas pelo cheiro do corpo,casas pelo cheiro dacozinha ao amanhecer(minha melhor lembrança é de uma que cheirava torradae suco de limão).
É tão estranho quantas coisas uma simples estação pode nos trazer.

*
Capítulo primeiro - A estrada
- Pé na estrada,dizia ele.
E foi assim que,de súbito,peguei minha mochila e o jeans mais velho e resolvi que deveria conhecer o mundo.Foi algo tão impulsivo que seminha consciência tivesse tido tempo de analisar - como ela sempre faz -eu não teria saído de casa.
O mundo é vasto e se render a um só horizonte,a uma só perpectiva,a umsó sonho,é perder um pouco da beleza das coisas.Sempre gostei de coisas bonitas,mas 'bonitas' a minha maneira.O que é feio para o outro é lindamente exótico para mim.E acho que assimvai ser sempre,mas isso não vem ao caso.
Peguei a estrada e o mapa,e segui viagem.Sem medo,sem pressa - e só.Um sol de matar,uma estrada furiosamente em pó e infinita.Tudo aquilo me extasiava,me fazia provar o belo do desconhecido,osentimento do céu - e me mostrava como o ser é êfemero e não se dáconta disso.
E se eu tivesse prolongado essa minha decisão de cair no mundo de cara?Talvez meu destino estivesse mudado - é,ele estaria -,talvez eu estivessemudada,com aquela minha velha mania de não tirar do papel.
Certamente eu pensaria tudo o que poderia ter sido,se tivesse tido a coragem de ousar.
(ousadia: ato de ousars. f.,qualidade do que é ousado;acto audacioso;atrevimento;destemor;arrojo;coragem;audácia;galhardia)
Viveria com o peso de significados de um dicionário,deprimente.

A face do silencio me assusta.Sua inexpressividade cheia de significados me sufoca a alma.


E foi naquela noite que
Senti,no ínfimo de meu ser,
O desespero.
A mudez da dor me tinha;
Entregue aos seus
Encantos,
Experimentei.
Não podia sequer falar.
O momento paralisou o
Canto e calou o grito.
E todas aquelas sensações
Foram se tornando a
Orgia,o sabath
Que tanto tinha repulsa.


(calei quando deveria me render à voz.Calei por vaidade – mera vaidade)


O fato é que por mais que o lirismo da fala me encantasse,a mudez iniciava em mim uma onda de prazer.


Prazer oculto nos meus
Atos puritanos!


Ah,perdi a dádiva da inocência.Não me arrependo.O grito?Quero gritar.Acabar com o êxtase.E só.


E no desespero do pranto
Calado
Morro,vou ao inferno
E me transformo em luz.
A dor,o sussurro
E o prazer.
As noites a boêmia.
A cada beco escuro,
A cada mão passada,
A cada,enfim,
Sonhos destruídos.

E a vida já perdia
O sentido das cores
O sentido dos gostos,
Mas não deles em si.

A cada esbarro nos cantos,
Nos muros,nas
Paredes do quarto.

Era uma pobre alma
Sozinha,finda e
Triste.