quinta-feira, 7 de outubro de 2010

cantando a lua esperada

Joaquim, sem mais nem menos, partiu naquele trem

das três da tarde, com exatamente quatro pertences na mão:

nada que tivesse sido meu em vida e vida.

entretanto, por pura brincadeira desses destinos tortos

atribuí a cada um deles algo que de mim nada tinha.

dentro do pano preto, bordado em roxo verde

dobrado cuidadosamente,

estavam seus bens para a vida toda -

pimentas guardadas com o tempo, fios cobres,

um incenso de canela e, raríssimo, pó de cometa

de anos raiz sem origem certa.

levou junto ao peito como se fosse coração coroado.

pensei que fosse o meu.

não era.

o que eu ofereci em uma bandeja, rodeado por folhas

orvalhadas do jardim

ele deixou na madrugada fria, à espera dos filhotes

de lobos que estavam ali, cantando a lua esperada.

eu não sabia - coração não se oferece.

Um comentário: