Seu moleskine continha páginas inteiras rabiscadas com versos e tentativas de romance crônicas matinais contos: só que sem fim. A própria finalidade de um moleskine, e não de um caderno qualquer era tentativa de inspiração. Uma vez, lera no jornal, que essa era a opção de papel de desenhistas e escritores, devido a facilidade de uso e a fita que, embutida, marcava as páginas. Na prática percebeu que a inspiração não advém do meio.
Sentado em frente ao rio Sena - ou deveria ser o Sapucaí? - repassou mentalmente (e em algum momentos fazendo pequenas aberturas labiais de uma forma tão discreta que nem precisaria ser surdo mudo para compreender) todos os desaforos que escutou quando Noele saía de seu apartamento. De fracassado somado a ruim de cama. Acredito que para ferir a virilidade de um homem, não seria necessário mais nada. Mas, como esse relato se trata de um moleque, esses dizeres não foram tão avassaladores assim. Chorou lamentos piegas em algumas páginas e foi possuído por uma quase-coragem: Vou tentar uma última vez.
No saco de papel pardo, onde o velho do bar havia empacotado cigarros de sabor (ele, como um bom moleque, sustentava seu vício de pseudo artista apenas com aromas. o cheiro da nicotina misturada a 3.000 substâncias químicas lhe dava crise de pânico) resolveu escrever uma obra-prima para deixar Noele fragilizada e, quem sabe, fragilizada a ponto de dizer que tudo aquilo era mentira.
Entretanto, se aproveitando de que a menina não gostava de Chico Buarque, mas de sertanejos universitários, resolveu plagiar.
Mas fica, meu amor.
Quem sabe um dia
Por descuido ou poesia
Você goste de ficar.
E, é lógico, ela ficou.
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