sábado, 29 de dezembro de 2012

cantarolices - parte 2

O rádio à pilha toca uma canção antiga, quem vem pra beira do mar, ai, nunca mais quer voltar. Música de um tal de Dorival, o moço da rádio disse. Confesso que não conheço muito dessas coisas, dos timbres mesmo só quando vou ao Armazém. O Zé que tem ele à pilha, diz que hoje tem mais moderno, então eu acredito. Vó Naná que sabia das cantorias, e ensinava as outras lavadeiras a encantar riacho. As águas valsavam e boleravam, conforme a moda, em meio às espumas do sabão. Dizem que os seres de lá, em agradecimento, branqueavam a rouparia. E perfumavam. Eu é que não vou discordar. Mas o Dorival, aquele da música, é que tem razão. Um dia na vida inteira fiz viagem de trabalho que era na beira do mar. Vi maravilhado toda aquela maravilha, e chorei na primeira onda. Nunca é que vou me esquecer. Mas voltar eu tinha, e aqui estou. Ganhei de aniversário uma vez uma concha, e assim parte de mim vive lá, no choro da primeira. Para não cansar, só escuto uma vez ao ano, as vezes duas. Mas não adianta (e o Caymmi canta): Andei por andar, andei, e todo caminho deu no mar


cantarolices


Sentado no banco, fenecia e pensava: talvez lhe restasse algo escondido entre as gavetas do quarto, entre os buracos da parede, entre tantos sins e nãos em meio a um mísero talvez. 

Talvez. Naquela altura do sol e os dias acumulados em folhas de calendário e memórias, já não sabia se procurava ou conformava. Entretanto, as possibilidades não escapavam ao seu cérebro ainda ativo e cada linha que desenhava à caneta gerava mais perguntas do que saciava a vontade de escrever. Devia ser sina, dom, passatempo transformado em habitus.

Aquele anjo do Natal não fez a visita. Não o fez rever passado presente futuro, nem desvendar o mistério do planeta. Não o fez mudar, perdoar e mais uma quantidade de verbos decorrentes desse encontro repentino com a vida, em suas variadas perspectivas. Porque para mudar de rumo, precisava ao menos de uma ajuda. Vê-se que não era ateu.

Desapontado, resolveu ele mesmo fazer sua retrospectiva. Pegou na estante caixas de fotos e cartas, papel de cartas, contas, recibos, fitas, negativos. Examinou cada um como fonte primária da sua pesquisa sobre ele mesmo. Buscava o mal secreto.

Depois de muito pensar, re-sentir, repassar cenas já vividas – outras, inventadas –, com os olhos baixos, disse:

- “Eu nem lembro mais quem me deixou assim”.

E nenhuma lágrima daqueles olhos caiu.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

vez em hora
quando des-ritma o coração
naquele compasso
assim, sem traço
afago e voz
e ilusão.

bem vale mais enquanto dura
enquanto cabe
(ternura)

pelas esquinas,
desvãos.


qualquer meu canto torto
quando desenrola
poesia
uma suspeita, espreita -
vem tempestade por aí.

domingo, 2 de dezembro de 2012

Com mate e afeto.

Eu poderia falar muitas coisas sobre fazer intercâmbio. Para agradar aos pais e familiares, assim como à instituição de ensino que me proporcionou (burocraticamente, que fique bem claro) fazer a chamada "mobilidade acadêmica", poderia falar sobre o capital cultural de Bourdie. Fazer uma análise sociológica dos cinco meses em contato com uma cultura diferente, bem como o mapeamento das minhas impressões e incorporações dos custumes alheios. Assim, falar dos aspectos da alteridade e coisa e tal.
Mas eu resolvi optar por outro caminho. Fazer intercâmbio, por mais que você pense, leia, imagine, será uma experiência totalmente diferente. Tá, pode parecer clichê falar assim porque toda experiência é diferente, mesmo quando é parecida (tem aquele ditado que as águas de um mesmo rio jamais serão as mesmas. os amantes da filosofia que me perdoem, mas estou com preguiça de procurar a citação. até porque, como já disse, optei por outro caminho: o do coração).

Apreendi olhando, andando, observando, conversando e enchendo linhas de gerundismos que me definem. Fazendo poesia, chorando de pijama no chuveiro, viajando sem dinheiro. Brigando no ônibus, me aventurando pela madrugada. Recebendo afeto e atenção de pessoas antes desconhecidas, talvez indiferentes. Praticando tarô e aprendendo a retrucar (porque não dá pra ser boazinha a vida toda).

Santo, um amigo venezuelano que conheci no meu primeiro dia de La Plata, marca  em uma nota no facebook as pessoas que ele conhece nesse mundão sebastião. nessa tal nota tem os seguintes dizeres:


"Salimos una vez de casa con un salvaje deseo de paralizar el tiempo, el tiempo paso y el reloj apretó el acelerador hasta el fondo, en esta tierra de extraños confeccionamos un lenguaje sin puntos ni comas pero con millones de signos interrogativos, en esta nueva lengua usamos muchas muletillas a las que la gente normal suele llamar abrazos y besos. Aprendimos a enamorarnos de lo ajeno y despreciar lo nuestro para luego empezar a dar la vida por lo que nos identifica.

Queridos hermanos somos la tribu de los de afuera, y ahora más que nunca cuando pasan los días y se nos acaba el tiempo nos aferramos a esta realidad con cierto sabor a cuento de hadas, no todos pudimos sentir igual en el paladar la desesperada textura del viento que aquí nos tragamos. Unos con más amargura y otros con más pena pero siempre excitante. Millones de versos me tomaría describirlos y no quiero hacer eso porque ya mis ojos cerrados saben retratarlos en mi memoria.

Queridos extraños que a bien supieron llegar a mi vida quería dedicarles alguna canción y es la que hacía el sonido de nuestras risas cuando embriagados de euforia nos recibía el día. Tan separados que fuimos que parecíamos un hilo entre esas charlas de recién recibida la mañana nos empeñábamos en hacer.

En estas mañanas me desperté pensando que inocentes fuimos al dejar correr los segundos, esos que se murieron sin recibir ni dar un abrazo, además fui sorprendido entre el resplandor de vernos enamorados de nosotros mismos, nunca antes vi algo así lo juro.

Había una vez unos desconocidos desenfrenados que querían llegar a algún lugar y llegaron a este. Hoy cuando ya muchos se fueron queda el amargo vino de un cuento de dios que rezaba “había una vez unos extraños que salieron de casa para detener el tiempo y solo se les detuvo el corazón cuando al regresar a ella dijeron adiós”.


Frases, expressões e afins que marcaram esses 5 meses:

- eu quero ser rica, eu quero ser rica, só fumar do bom e estourar na larica.

- y hoy voy hacerte olvidar, el pelo te soltaré. hare una historia con tu cuerpo (te necesito!) en tu mente plasmaré.




- cuanto sale?

- ai, acho tendência. me sinto fazendo intercâmbio.

- cara, eu vou pra Bolívia.

- quando eu te vi fechar a porta eu pensei em me atirar pela janela do oitavo andar, onde a dona maria mora, porque ela me adora e eu sempre posso entrar. era bem o tempo de você chegar no T, olhar no espelho o seu cabelo e falar com o seu zé. e me ver caindo em cima de você como uma bigorna cai em cima de um cartoon qualquer...


- pode avisar que eu não vou, ô ô ô ô, eu tôô na estrada. eu nunca sei da hora, eu nunca sei de nada.





- como escreve almohada?

- procura no google.

- me dá um cigarro, tuco?

- ralla feia do mal.

- para acalmar minhas crises de pânico


- já assistiu medianeras?

- bárbara, viver com você pode ser devastador na vida de uma pessoa.


6 meses em 6 fotos: (será que isso é possível?)


1.Fevereiro


Primeiro dia na casa nova, comendo tarta!


2.Março



Paulinha entrando na minha vida para sempre amém. Trâmites do visto e a Casa Rosada ao fundo.

3.Abril


Sebastian negando un besito en Caminito.

4.Maio



O que há de divino em mim saúda o que há de divino em você - Republica de los niños.

5.Junho


Congela o tempo pr'eu ficar devagarinho - Punta Lara.

6.Julho


Colônia del Sacramento.



Que fique bem claro como é difícil e injusto resumir meses em 6 fotos. Faltou tanta coisa, tanta paisagem, tanta gente!

Por fim, gostaria de agradecer profundamente aos meus queridos, da Calle 59 entre 23 y 24. Ana María entró en mi casa para hacer la visita legal, pero nosotros quedamos borrachos y ana María se sentió muy mal.

Los extraño, hecho de menos. Saudade.


Ps. Arthur, você me pediu um post motivador sobre a volta. Sabe, acho que não sei escrever sobre isso. Talvez porque nem precise disso. É questão de tempo e assimilação. A gente cresce por dentro, muda algumas velhas opiniões formadas sobre tudo (sobre o que é o amor, sobre o que eu nem sei quem sou), e etecéteras. Cada parte da vida tem seu lado, cabe a gente desfrutar.