O rádio à pilha toca uma canção antiga, quem vem pra beira do mar, ai, nunca mais quer voltar. Música de um tal de Dorival, o moço da rádio disse. Confesso que não conheço muito dessas coisas, dos timbres mesmo só quando vou ao Armazém. O Zé que tem ele à pilha, diz que hoje tem mais moderno, então eu acredito. Vó Naná que sabia das cantorias, e ensinava as outras lavadeiras a encantar riacho. As águas valsavam e boleravam, conforme a moda, em meio às espumas do sabão. Dizem que os seres de lá, em agradecimento, branqueavam a rouparia. E perfumavam. Eu é que não vou discordar. Mas o Dorival, aquele da música, é que tem razão. Um dia na vida inteira fiz viagem de trabalho que era na beira do mar. Vi maravilhado toda aquela maravilha, e chorei na primeira onda. Nunca é que vou me esquecer. Mas voltar eu tinha, e aqui estou. Ganhei de aniversário uma vez uma concha, e assim parte de mim vive lá, no choro da primeira. Para não cansar, só escuto uma vez ao ano, as vezes duas. Mas não adianta (e o Caymmi canta): Andei por andar, andei, e todo caminho deu no mar.
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