quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Histórias felizes demandam tempo. Eu tenho pressa.

Escutou no rádio uma canção que não lhe era familiar. Tentou aos poucos decorar fragmentos, acordes, timbres, até assimilar como um todo; da poética à parte técnica. Não era bom instrumentista; entretanto, de uma percepção auditiva invejável. Reconhecia pessoas por vozes, como um cego na multidão, e as escutava a uma distância que os detentores de segredos sentiam-se acuados.

Cantarolando, seguiu seu caminho previsível pelas ruas que davam no trabalho. E sentindo - fragmentos, acordes, timbres - percebeu em que acinzentada paleta estava sua vida. Quem sabe um dia pudesse viver e sentir por ele mesmo, pensou.

Decepcionando com a sua desilusão, que antes não atrapalhava de tão adormecida, esqueceu-se do bueiro óbvio da Rua do Vidigal.

Caiu, morreu e não lhe sobraram, ao menos, desejos nem migalhas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário