sábado, 12 de janeiro de 2013

O eterno retorno.

Serviu vinho no copo americano mesmo. Embora o copo não demostrasse fineza, a bebida era de boa safra. A pequena sala com também uma pequena mesa, comprimia o ar com a tristeza dos tempos, dos descendentes daquela família sem linhagem que conseguiu alguma riqueza para me servir aquele vinho diante daquelas inúmeras fotografias pregadas na parede. Na verdade, não me importava. Nem de vinho eu gostava, e me importava menos ainda. Estar ali era como captar uma vida inteira. Então você veio fazer uma entrevista sobre o antigo jornal. Sim, disse eu, um trabalho para faculdade. Foi a primeira coisa que me veio à mente, talvez até por vontade de que assim o fosse. Eu que mal terminei o ensino médio. Pode começar a perguntar, mesmo eu não sabendo que importância essa maldição familiar poderia ser interessante. Desculpa, herança. Durante os seis segundos que duraram a sua fala, ele pensou nas lembranças acumuladas de 7 gerações inteiras. Não entendia de que forma se conectava aos seus e abrigava em si todo o peso do mundo. Foi o único que sobrou de uma família de 7 irmãos, 15 tios, 4 avós, 23 primos, pai, mãe e 3 agregados - tirando os irmãos e primos e tios espalhados pelas proximidades daquela cidade erma, concebidos sobre o estigma dos amores súbitos. Não sabia como tinha calculado toda essa pequena comunidade em fração de segundo. O jornal foi fundado em mil novecent...Sou sua filha. Sem ânimo mas com alguma surpresa no canto dos olhos, ele disse em voz alta: o eterno retorno sem fim, e fitou o assoalho da pequena sala onde a respiração parecia quase não existir, só se sabia ali pois os dois corpos sentados em cadeiras velhas, porém em bom estado, permaneciam vivos. Tomando em um gole só aquele vinho, como se no copo tivesse aguardente, me levantei em um pulo para seguir meu caminho como sempre havia feito antes daquele momento mal calculado. Ao ver que eu não falaria mais nenhuma palavra e perceber que nem ao menos sabia meu sobrenome para uma futura pesquisa no catálogo telefônico, talvez, segurou minha mão sobre a mesa: aceita um café?

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