A minha cabeça está fervilhando de pensamentos, o corpo
afetado. São tantas as imagens e as palavras sobre as manifestações contra o
aumento das tarifas de ônibus. E que ao mesmo tempo não é apenas contra o
aumento da tarifa: é algo bem maior. É uma expressão da insatisfação como um
todo: transporte público, educação, saúde, lazer sucateados e caros (caso você
queira um serviço de qualidade - que muitas vezes é até questionável. digo, a
qualidade dos serviços caros). Pouco entendo de política, economia, história
(sim, história). Como diz Adélia Prado: "Mas o que sinto escrevo. Cumpro a
sina". E aqui estou.
Essa semana li em um blog/jornal chamado A Folha do Gragoatá
uma postagem com a diva absoluta Laura de Mello e Souza respondendo ao
questionamento: Por que estudar História? (aliás, foi divulgado nas redes
sociais essa semana que esse curso está entre os menos promissores. jura?). Vou
colocar aqui alguns trechos nos quais a historiadora tenta responder ou, ao
menos, refletir sobre.
"Mas a História é, tenho certeza disso, uma forma de
conhecimento essencial para o entendimento de tudo quanto diz respeito ao que
somos, aos homens. Os humanistas do renascimento diziam que tudo o que era
humano lhes interessava. A História é a essência de um conhecimento
secularizado, toda reflexão sobre o destino humano passa, de uma forma ou de
outra, pela História. (...)
A História é fundamental para o pleno exercício da
cidadania. Se conhecermos nosso passado, remoto e recente, teremos melhores
condições de refletir sobre nosso destino coletivo e de tomar decisões. Quando
dizemos que tal povo não tem memória – dizemos isso frequentemente de nós
mesmos, brasileiros – estamos, a meu ver, querendo dizer que não nos lembramos
da nossa história, do que aconteceu, por que aconteceu, e daí escolhermos
nossos representantes de modo um tanto irrefletido (...)
Não acho que se toda a humanidade fosse alimentada desde o
berço com doses maciças de conhecimento histórico o mundo poderia estar muito
melhor do que está. Mas a falta do conhecimento histórico é, a meu ver, uma
limitação grave e, no limite, desumanizadora. (...)
Portanto, volto ao início, à diversão, e acrescento: o
conhecimento histórico humaniza no sentido mais amplo, porque ajuda a enxergar
os outros homens, a enfrentar a própria condição humana.●"
Pensando no por quê de se estudar história juntamente com os
inúmeros comentários e imagens sobre a legitimidade ou não das manifestações,
penso que aquela antiga frase permanece verdadeira: nenhum Governo quer um povo
instruído, porque pensar é um instrumento poderoso. Quem quer sofrer
desequilíbrio na sua zona de conforto ganhando bem enquanto tem gente passando
fome ou comendo o pão que o diabo amassou (juro que não sei o que é pior),
passando frio, sendo dizimadas, etc etc etc.
Hoje, caminhando pelas ruas do Rio de Janeiro me deparei com
uma exposição de fotos de Ouro Preto. Se chama, acredito, "Ouro Preto não
postal", com imagens de um cotidiano pacato, repleto de poesia. Mas tinha
um escrito no papel que me chamou a atenção. Não sei se a citação está certa,
nem a referência. Dizia o seguinte:
Quem não se movimenta não sente as correntes que o prendem.
- Rosa de Luxemburgo
Realmente. E deve ser por isso que tem muita gente falando
merda. Essa bagunça toda por causa de 20 centavos? Vândalos prejudicam o
trânsito? Ai ai.
Outra leitura que fiz e achei muito boa, tão boa que nem dá pra ficar separando trechos, se não vai variar plágio, é da Clara Averbuck.
"Será que ainda tem como ignorar essa insatisfação?
Segundo, me recuso a achar isso normal e acabar vivendo essa
situação cotidianamente até acreditar que só ela existe. Se toda semana um
policial me tocar uma bomba na cabeça e eu achar isso normal, vou acabar
acreditando que o problema são os policiais, feito muitos policiais acreditam
que o problema sou eu. Mas não. Eu e esse cara que me intimida e agride (até
por ter apoio do Estado para isso) temos mai$$ em comum que ele consegue
lembrar. E eu não quero esquecer isso, só por não concordar com as posições
dele. (...)
Porque não é normal violência e abuso policial em uma
manifestação legal. Porque se ninguém se responsabiliza por nossa idoneidade
física, nós temos que fazer."
Sei que não estou escrevendo nada que vocês (caso exista um grupo de leitores) já não tenham lido por aí. Mas é que me afetou de um tanto, e me encheu de orgulho de ser brasileira. E aos que possam vir criticar falando sobre o atentado ao patrimônio público, vou me apropriar da frase de uma pessoa X que li no Facebook: "se essa multidão de pessoas tivessem cometendo vandalismo, aí sim seria trágico". É tipico da mídia dar informação distorcida e compactar/marginalizar uma série de ações. Uma postagem do Eu me chamo Antônio de hoje foi genial:
Enfim: me deu o maior orgulho de ver essa galera toda nas ruas. De arrepiar. Mesmo que eu tenha só visto por vídeos, imagens dizeres. Tá, eu sei que é feio. Talvez eu não esteja no grau evolutivo dessas pessoas, mas fico feliz com a atitude e com a diferença. Toda manifestação já é uma perspectiva de mudança.
Ps. imagens Rio De Janeiro/São Paulo retiradas em páginas aleatórias do Facebook.
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