sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

cinco letras

na madrugada que consome,
vejo seu nome rabiscado entre quatro poemas.
cinco letras, garrafais.
entre os goles de vinho e gosto de cais
vou me edificando -
como uma mulher e suas garras.

só seu


brinco de escuridão
no meio de ruas perdidas
declives
sinastria.

mas meu coração,
que brilha como o astro rei
faz malabarismos em meio ao caos
e te encontra
no fundo da noite:

com o meu amor -
que é só seu.

acorde só

desde o fim do fundo,
no começo do mundo,
o homem e seu deus, em conversa de reis -
cada um do seu cada qual -
ensimesmados no som,
contentes com o tom
freneticamente, se puseram a cantar.

nesse momento, o homem,
diante da exatidão do que se é
não mais o sentiu:
era agora imortal.

e o deus, diante da atemporalidade
da sua composição
sentiu
fio a fio
da sua tecitura
que no fim, a loucura,
era jamais morrer.

em sua divindade,
viu na música
a beleza de ser finito
em um acorde

só.
compor, letra a letra,
nem sempre fácil.
mais difícil é a paixão.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

De samba a quatro, enfim, a dois.

Era uma vez uma menina. Era uma vez uma menina cheia de sonhos.Era uma vez uma menina triste. Como se não bastasse ser menina. Como se eles - onírico - não fossem o suficiente. E não eram. E assim começa a história...

Era uma vez uma menina triste, mas cheia de sonhos. A tristeza já formulada em seu corpo infantil tinha raízes jamais antes observadas - ao menos em alguém como ela, uma menina. Ela cresceu. Mais alguns centímetros, quilos na balança. Ela envelheceu - só na cabeça. Cresceu. Mais alguns centímetros. Parou. Menstruação.

Parou. Do quarto um templo. Dos livros, um guia de oração. Não acreditava nas imagens, até conhecer os filmes. Até se apaixonar pela fotografia. Pela pintura. Sobretudo, a fotografia - a arte de escrever com a luz. Mas, ainda, era uma vez uma menina.

Um dos seus sonhos - o mundo. O maior deles - o amor. Com a idade, percebeu que só ele a resolveria. E, ainda com a idade, percebeu que apenas ela tinha esse poder, e não um verbo. Assim como um crente diante do milagre alheio, ela preferiu ignorar a conclusão. Porque o maior deles - dos sonhos - não era real. Mas as cartas de tarô prometiam. E o destino estava lançado.

E o destino se cumpriu. De samba a quatro, enfim, a dois. Sem mais depois. Já era amor.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Baú das obsessões


A obsessão por lembranças. Estoques de recordação. Caixas de cartas. Palavras salvas. Mensagens eternas. Tudo isso na tentativa de não deixar o passado cumprir sua função. Mas, o que seria de um mundo sem lembranças?

Meu notebook estragou. Sim, tive essa infelicidade em pleno final de período da faculdade, com trabalhos para entregar. Chorei pelas ruas de Mariana desconsolada. Pela briga com o namorado, pelos dados do relatório de estágio, fotos, dinheiro, poesias. O computador é como que uma caixa de lembranças, depósito de memórias. Fazer back up para quê? Jamais aconteceria comigo. Levei na assistência – ufa! Eu havia comprado a garantia estendida. Por favor, coloque a observação de que tenho dados muito importantes do meu trabalho. Mentira. Em partes. Re-transcrever entrevistas era o de menos naquele momento. O que eu mais queria, mesmo, eram as minhas fotos e poesias, colecionadas e confeccionadas com um amor sobre-humano. Nos 20 dias até receber o retorno da Garantec tentei me convencer de que daria tudo certo. Com tudo salvo. Doce ilusão. Ganhei um notebook novo, sem arranhões, Bluetooth – que eu excluí, não sei como – e um 1 gb a mais de memória. O problema do dinheiro e da briga com o namorado estavam solucionados. Mas, e as minhas lembranças? Até hoje não acredito que elas se apagaram. Fico na esperança de encontrá-las por aí, em um dia ensolarado qualquer.

O que me fez começar a escrever esse post non sense foi uma perturbação dos últimos dias. Por que essa obsessão por lembranças? Será que, sem elas, esqueceríamos quem nós somos? Mas nós, nessa intensa humanidade, somos senão muitos, vários, infinitos. Acredito que a lembrança traga no seu âmago uma profunda tristeza – a de que não somos mais. Ou a tristeza de que jamais teremos aquela felicidade ingênua e descomprometida daquele retrato, ou aquele maior amor, com direito a frio na barriga e pequenas surpresas, subentendido nas cartas rodeadas de palavras ridículas – devido a natureza das cartas de amor, segundo Drummond. Se as lembranças nos remetem tudo o que não mais podemos ser, ter e sentir, nos deixando, então, tristes, porque idolatramos esse deus perverso chamado saudade?



pouco adiantou
fazer poesia
cartas
sinais
telepatia.
na falta do que fazer
me enveredo em enredos
que não me trazem você.
das saudades que eu tenho
no hoje, essa é latente:
a música da madrugada,
encontros casuais estrategicamente
forjados
os raios, as dores, as causas.
era só felicidade.
na medida do possível, muita calma não convém.
os monges que me perdoem
mas a paixão é fundamental.
não, a beleza é fundamental.
não, beatlemente falando,
nada é real.
quero é meu coração livre das amarras
livre das mentiras, das intrigas
das corrupções de quem eu sou.

e com o leve sorriso, do novo
do leve e do limpo
ver,

enfim,

a felicidade chegar.
o coração magoado, na espera de vingança,
pensa que a paz virá em prato frio.
o que ele não sabe,
é que dor não se vinga,
e que quanto mais mexe,
menos no passado tende a ficar.
de todos os amores que a vida
me deu e tirou

ele, que permanece incólume
em corpo, poros, veias, pés
abraços, enlaços, beijos

espaços

só ele não percebe
que em cada grito ou canção
é a letra do seu nome que está,
sensivelmente, codificada.
hoje acordei estúpida.
acordei como alguém que não deveria,
senão, dormir

para evitar as catástrofes emocionais
dos minutos seguintes.
dentro do meu coração
como um pássaro que não se cala
entre as árvores, casas e postes
mora um desassossego tão íntimo que,
com música alguma, se acalma.
já tentei das francesas, dos chicos,
dos betos e das marisas.
já tentei os setentas, os borges.
já tentei, ingenuamente, o som da chuva
que há dias virou trilha sonora das ruas.
já tentei a vida.
mas desconfio que a cura
seja o ritmo secreto do tambor natural
com suas veias e seu líquido
na explosão vermelha e ferro
do peito quente, ardente
na manhã fria.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

eu sinto tanta saudade de mim
é assim
quando se deixa deixar de sonhar.
o som da chuva vem me trazer
memórias de um não sei o quê
que transcende a vida
as cidades
as serras.

e os pequenos sonhos.
mamãe, eu só queria
fugir da vã filosofia
do historicismo alemão
do proletariado.

eu só queria ser poeta.
na descoberta das inúmeras faces
entre o ser, e a vontade,
o lado agressivo vem a tona:

desarmando o homem e seu cigarro na rua.
o galo e seu canto - ininterrupto
imita meu pranto fatigado
na noite.

sem qualquer cometa.
é no tropeço da sua dança
que eu caio em desalento.
das coisas de delicadezas, é só o que peço.
despeço, sem nem mais um choro.
em que baú ficaram escondidas as partes
repletas de mim?

nesse fim, melhor assim?
tudo vai mal, já dizia o rei
no blues choroso da madrugada a fio.
mas a vida é boa, e a felicidade

um delírio.
ando devagar porque divago
em cada canto de esquina,
em cada quina de mesa.

em cada estilhaço de vidro
em cada fragmento de tinta
em cada frase, verso,
palavra, entrave

l
e
t
r
a

por

l
e
t
r
a
nessa coisa de ser mundo
te sonho em meus (a)braços
no tango de gardel
no espanhol que eu não falo
na casa em que não vivo
no borges que eu não leio

no teu amor que é só meu.
ano novo
roupa nova

tudo igual sambando na avenida.
das profundezas da gente, se recriam situações em que fomos - ou fingimos ser - felizes. ou alegres, talvez. e a cada ano que passa, na palavra que se cala, na tristeza que se acomoda, no vírus que não se cura, a cabeça, um dia flor, fenece. mas ela renasce. sem muita cor ou perfume, confesso. o que seria melhor? e no inusitado da vida buscamos consolo. como se o imprevisível nos aguardasse com momentos que valem a pena ser vividos. gaste um tempo, puxe uma cadeira que eu pego um prato a mais - sussurra o imprevisível. mas a clássica frase "mais vale um pássaro na mão do que dois sobrevoando" se traduz em "melhor é ficar meio triste, meio apático, meio insatisfeito do que em uma fossa completa". como se uma meia tristeza pudesse substituir uma felicidade.