A obsessão por lembranças.
Estoques de recordação. Caixas de cartas. Palavras salvas. Mensagens eternas. Tudo
isso na tentativa de não deixar o passado cumprir sua função. Mas, o que seria
de um mundo sem lembranças?
Meu notebook estragou. Sim, tive
essa infelicidade em pleno final de período da faculdade, com trabalhos para
entregar. Chorei pelas ruas de Mariana desconsolada. Pela briga com o namorado,
pelos dados do relatório de estágio, fotos, dinheiro, poesias. O computador é
como que uma caixa de lembranças, depósito de memórias. Fazer back up para quê?
Jamais aconteceria comigo. Levei na assistência – ufa! Eu havia comprado a
garantia estendida. Por favor, coloque a observação de que tenho dados muito
importantes do meu trabalho. Mentira. Em partes. Re-transcrever entrevistas era
o de menos naquele momento. O que eu mais queria, mesmo, eram as minhas fotos e
poesias, colecionadas e confeccionadas com um amor sobre-humano. Nos 20 dias
até receber o retorno da Garantec tentei me convencer de que daria tudo certo. Com
tudo salvo. Doce ilusão. Ganhei um notebook novo, sem arranhões, Bluetooth –
que eu excluí, não sei como – e um 1 gb a mais de memória. O problema do
dinheiro e da briga com o namorado estavam solucionados. Mas, e as minhas
lembranças? Até hoje não acredito que elas se apagaram. Fico na esperança de
encontrá-las por aí, em um dia ensolarado qualquer.
O que me fez começar a escrever
esse post non sense foi uma perturbação dos últimos dias. Por que essa obsessão
por lembranças? Será que, sem elas, esqueceríamos quem nós somos? Mas nós,
nessa intensa humanidade, somos senão muitos, vários, infinitos. Acredito que a
lembrança traga no seu âmago uma profunda tristeza – a de que não somos mais. Ou
a tristeza de que jamais teremos aquela felicidade ingênua e descomprometida daquele retrato, ou aquele maior amor, com
direito a frio na barriga e pequenas surpresas, subentendido nas cartas rodeadas
de palavras ridículas – devido a natureza das cartas de amor, segundo Drummond.
Se as lembranças nos remetem tudo o que não mais podemos ser, ter e sentir, nos
deixando, então, tristes, porque idolatramos esse deus perverso chamado
saudade?
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