Ontem eu tive medo. Um medo incrível de dormir, desses de quem está sozinho em um quarto escuro, sem possibilidade de luz. Hoje, sonhei com quem já se foi. Mas, ao menos, tive a possibilidade de um último abraço, troca de palavras. Ele disse para eu acreditar em mim mesma. Mas, no final, pode ter sido apenas um sonho. Parafraseando Adélia, Deus me roubou a poesia. Os dedos correm pelas teclas, em busca de algum ritmo escondido no interior de cada palavra. Não consigo. No tarô, A Morte. Inevitável em seu ciclo de mudanças. Ás vezes penso que a jornada do Louco poderia ser mais fácil. C'est la vie, canta a música no rádio. Das obviedades eu quero o riso.
Em um dia de semana qualquer, ela conheceu o Senhor. E por dois anos eles viveram uma relação de amizade e irritação aos finais de semana pela manhã. Conversavam sobre tudo, coisas inimagináveis para uma reunião de pauta. E, em plena primavera, o Senhor, homem saudável e com vontade de vida, adoeceu. Sem poder ver suas pitangueiras floridas na Rua do Seminário Sem Número. Mas com o inevitável cheiro da papaya verde.
Foi em uma quinta-feira que as suas vidas seriam modificadas. Não a dela e do Senhor. Esse é o início de uma outra história. Que, ao contrário do Senhor, nasceu em plena Primavera. Foi nessa quinta-feira que a profecia da fita no pulso cumpriria seu desejo.
Esquizofrenia das palavras. Das lembranças eu quero a materialização. No desenrolar do medo, a escuridão visível é a que menos importa.
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