domingo, 22 de abril de 2012

Cola o meu retrato no teu e me namora?

Ele deixou seus afazeres de lado e correu. Correu como se treinasse maratona à anos, como se seu sedentarismo crônico e procrastinador nunca tivesse existido. Correu sem pensar em cifras e orgulho, sem lembrar das palavras ríspidas. Assim como a flor, ela deveria ser julgada pelas suas atitudes, e não por suas palavras. Ele correu. Esqueceu o mau humor, a febre, a cólera. Pegou três ônibus. Se esqueceu das bactérias, dos suores, dos nojos, da multidão. Não havia mais passagem. Contou à vendedora nossa história triste, a pausa dramática. Anunciou nos auto-falantes, questionou com a polícia, subornou o piloto (quando se trata do coração, todo jeitinho brasileiro é válido, sem pecado do lado de baixo do equador). Repousou. Escutou uma canção triste seguida de uma feliz - ela estaria lá. A saudade que transforma horas em anos. Essa palavra que só existe na língua de lá. Ele chegou. Pegou mais dois ônibus. Como o coletivo 214 não passava, como de costume, e na pressa de achar, resolveu saltar em frente à um táxi: "59 entre 23 y 24" falando um espanhol caduco. O taxista quis saber da sua história, o porquê de tanta pressa, "esse é o mal dos turistas". Ele, falando de amor. O taxista questionando sobre futebol. - olha só a enquete de hoje 'qual o melhor jogador da América: Neymar ou Ronaldinho?'. o melhor é o Messi. Ele, na ânsia de abraçar, desistiu de falar que o Messi jogava na Europa. 1424, é aqui. Toca o timbre, ninguém atende. Toca o timbre novamente. As sete da manhã. Uma figura sonolenta aparece cambaleando até a porta de vidro. Era ela, tinha que ser.
Pausa silenciosa.
O coração como um maracatu. O coração na boca. O coração que, lentamente, se acalma.

- Cola o meu retrato no teu e me namora?





- Sim.

Nenhum comentário:

Postar um comentário