Com ele eu quero ter três filhos: Bento, João e Luiza. Quero correr mundo, navegar, sem perigo. Quero pôr a mesa, tomar um vinho, puxar a cadeira para uma conversa despretensiosa. Com ele eu quero conhecer a Argentina, Inglaterra, França, Colômbia, Uruguai, Itália. Andar de bicicleta entre as tulipas e os moinhos da Holanda. Quero desbravar a vida e encontrar a morte como um sopro na velhice. Quero dividir minhas ânsias. Discordar fielmente quando o assunto for literatura. E entrar de acordo quando se falar de amor. E sentir. Com ele quero tardes amenas, chocolate e flores. Quero um conto de fadas. Quero a realidade sem poesia. Quero transformar o tédio. Com ele eu quero meu riso bonito. Meu sono tranquilo. A respiração. Quero os beijos de novela. Com ele eu tive meu melhor abraço. Minha melhor quarta-feira a tarde. O melhor vinho. As piores discussões. O melhor amigo. Com ele eu esqueço dos perigos de um parque. Do tempo que passa. Dos compromissos de agora. Sem ele eu perco a fé. Eu esqueço a vontade. Me despedaço em mil pedaços que não se pode colar. Fujo da vida. Faço revoluções com protestos de uma pessoa só. Sem resultado. Sem ele eu faço poesia para chamar atenção. Cozinho o armário de um mês inteiro. Sinto medo. Tenho alergia. Com ou sem, quando acordo ou vou dormir, os pensamentos tem sempre a mesma direção. Com ele meu pé é sempre aquecido. Sem ele, o frio é aqui dentro de mim. E não há meia e cobertor que me abrigue da noite fria. Com ele eu descobri o amor. Descobri que preciso me amar, também. Que nem sempre as coisas são como gostaríamos que fosse ou como dizemos ser. Com ele eu aprendi a dançar no escuro. Cair de precipícios. Aprendi o significado de contar quinhentos e dezoito dias no calendário.
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