Ele tem os olhos mais delicados.
Amendoados. Que mudam de cor. Ele, depois do frio – que é medo – tem o coração
quente dos mais variados sentimentos. Sensibilidade. Que não é referente aos
gostos, mas ao que se sente, ali, bem no fundo. Sim, ele é mais sentimental do
que eu. E se encobre. Por medo. Pelo vazio. Pelo tempo que, nem sempre, foi
complacente. Ou feliz. O tempo que planta alguns estragos, deixa cicatrizes. O
tempo que fere. Que atrasa beijos. Adianta despedidas. Deixa saudade. Mas ele,
com seus olhos delicados, luta bravamente contra seus algozes. Não
metaforicamente. Ele faz boxe. Talvez imaginando que o alvo seja a
materialização do tempo. E metaforicamente também. Ele e sua retórica. Que no
final, estão nus no tempo, no vazio, caso não haja amor. Mas há. Não só o meu –
embora minha possessividade relute em aceitar. E é justamente isso que salva:
ser amado. E, porquê não, amar. Tem dias que me pego questionando: por que eu?
Não sei responder. Ao me deparar com esse sentimento, que é tão grande, quem
acaba se vendo nu no tempo e no vazio, com a pior retórica, sou eu. Porque ser
amado, as vezes, assusta. Bravamente. Como um furacão. Abala estruturas.
Derruba algumas. Porque sentimentos implicam expectativas. Que implicam
decepções. Desapontamentos. Eu quero aqueles olhos delicados, sem a experiência
da dor. E o medo de transformá-los, como uma pintura que não se quer estragar
no ato da restauração, me transforma. Em uma refém.
Que lindo seu texto Ç_Ç
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