terça-feira, 6 de março de 2012

ele é mais sentimental que eu


Ele tem os olhos mais delicados. Amendoados. Que mudam de cor. Ele, depois do frio – que é medo – tem o coração quente dos mais variados sentimentos. Sensibilidade. Que não é referente aos gostos, mas ao que se sente, ali, bem no fundo. Sim, ele é mais sentimental do que eu. E se encobre. Por medo. Pelo vazio. Pelo tempo que, nem sempre, foi complacente. Ou feliz. O tempo que planta alguns estragos, deixa cicatrizes. O tempo que fere. Que atrasa beijos. Adianta despedidas. Deixa saudade. Mas ele, com seus olhos delicados, luta bravamente contra seus algozes. Não metaforicamente. Ele faz boxe. Talvez imaginando que o alvo seja a materialização do tempo. E metaforicamente também. Ele e sua retórica. Que no final, estão nus no tempo, no vazio, caso não haja amor. Mas há. Não só o meu – embora minha possessividade relute em aceitar. E é justamente isso que salva: ser amado. E, porquê não, amar. Tem dias que me pego questionando: por que eu? Não sei responder. Ao me deparar com esse sentimento, que é tão grande, quem acaba se vendo nu no tempo e no vazio, com a pior retórica, sou eu. Porque ser amado, as vezes, assusta. Bravamente. Como um furacão. Abala estruturas. Derruba algumas. Porque sentimentos implicam expectativas. Que implicam decepções. Desapontamentos. Eu quero aqueles olhos delicados, sem a experiência da dor. E o medo de transformá-los, como uma pintura que não se quer estragar no ato da restauração, me transforma. Em uma refém.

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